💣💥CASO GAEL - Mãe é investigada por morte de menino de 3 anos

O que é o software usado pela polícia do Rio para
investigar celulares no caso Henry Borel
Direcionado a autoridades policiais, Cellebrite Premium é um serviço israelense que permite o desbloqueio de aparelhos e a recuperação de dados apagados. Empresa já forneceu solução para a Lava Jato
A polícia do Rio de Janeiro usou um
programa de computador para investigar aparelhos de celular e conseguir provas contra o vereador Dr Jairinho e a
professora Monique Medeiros, que foram presos nesta
quinta-feira (8) por tentarem atrapalhar apuração da morte do filho dela, Henry Borel,
de 4 anos.
O Cellebrite Premium é vendido por uma
empresa israelense para uso de autoridades policiais e, de acordo com a
companhia, tem capacidade técnica para desbloquear diversos celulares. A
companhia já ofereceu produtos para a Polícia Federal em investigações da Operação Lava Jato.
Segundo o chefe da Polícia Civil do Rio,
ele foi comprado para a investigação do caso Henry Borel e "foi
fundamental" para a conclusão de que Jairinho, padastro de Henry, o
agredia. Tanto o vereador quanto a mãe do menino negam envolvimento na morte
dele.
O
que é o Cellebrite Premium?
É uma linha de serviços prestada pela
Cellebrite, uma empresa de Israel que oferece tecnologias para a perícia de
dispositivos eletrônicos.
A Cellebrite tem diversas concorrentes
nesse mercado, mas é um dos nomes mais conhecidos. Como as empresas prometem comercializar
suas soluções apenas para autoridades policiais, a
disponibilidade do serviço é limitada.
Segundo a documentação da própria
companhia, o software Cellebrite Premium tem capacidade técnica para desbloquear diversos
celulares com Android e iOS (iPhones).
A companhia oferece ainda suporte em
laboratório com "especialistas certificados em inteligência digital".
O produto não é infalível, porém. A lista
de aparelhos compatíveis é constantemente atualizada e não está disponível
publicamente. A companhia explica na documentação que a versão do sistema também
pode influenciar no funcionamento.
O
que ele faz?
Os detalhes do funcionamento do serviço
da Cellebrite são um segredo comercial. Normalmente, são utilizados um conjunto
de tecnologias, com software e hardware, para desbloquear o telefone ou, pelo
menos, extrair qualquer informação possível do aparelho, inclusive dados
apagados.
As fabricantes de celulares não criam
nenhum mecanismo para que policiais possam desbloquear aparelhos. Caso esses
mecanismos fossem criados, todos os consumidores estariam em risco caso o
"segredo" do desbloqueio parasse em mãos erradas.
Por esse motivo, a perícia de celulares
bloqueados costuma utilizar brechas de segurança.
Em aparelhos mais antigos ou que não
recebem mais atualizações, essas vulnerabilidades são de conhecimento público.
Para os celulares mais novos e que ainda
recebem atualizações, as falhas usadas para burlar o bloqueio de tela são
mantidas em sigilo. Com isso, o fabricante não consegue corrigir o problema e
fechar a brecha que permite o desbloqueio não autorizado.
Além disso, investigadores devem coletar
dados de modo a preservar a validade jurídica da prova. O método de extração
deve evitar a possibilidade de manipulação de dados ou alterações que
prejudiquem a consistência da informação.
As soluções de perícia
normalmente adotam mecanismos de coleta que facilitam esse trabalho, copiando
dados de forma integral. Isso ajuda a recuperar dados perdidos ou apagados.
Por regra, sistemas digitais como computadores e smartphones não "apagam" nenhuma informação, explica o jornalista Altieres Rohr, que tem um blog sobre segurança digital no G1. Em vez disso, remove-se apenas a referência e o espaço é marcado como livre.
"De certo modo, é
como tentar apagar uma parte de um livro retirando apenas o nome do capítulo no
sumário. O texto permanece lá, mas não existe mais a referência para
encontrá-lo", explica Rohr.
Como a memória é fixa, não
existe a opção de "arrancar as folhas", como no livro.
Em uma exclusão definitiva, cada página teria de ser manualmente reescrita,
substituindo os dados anteriores por páginas em branco ou textos aleatórios.
Em celulares, reescrever informação
diminuiria a vida útil da memória do aparelho e aumentaria o número de
operações, o que também teria um impacto na duração da bateria. Com o método
usado hoje, exclusões são praticamente instantâneas.
Por outro lado, apagar um arquivo com
substituição de dados seria mais lento do que copiar um novo arquivo do mesmo
tamanho.
Mas isso não quer dizer que dados apagados
permanecem disponíveis para sempre. Com o tempo, novos arquivos
devem ser gravados nos espaços livres deixados pelas informações apagadas. Isso
deixará os vestígios
cada vez mais incompletos, até que os pedaços remanescentes já
não tenham mais utilidade.
Conheça mais sobre esse Programa:
Cellebrite
já foi usado na Lava Jato
Os serviços da Cellebrite já foram
utilizados em outras investigações no Brasil e no exterior.
A Polícia Federal, por exemplo, conta com
o UFED (Dispositivo de Extração Forense Universal, em tradução da sigla em
inglês) um aparelho que vem em uma maleta e possui equipamentos e programas de
computador para desbloquear aparelhos.
O produto foi utilizado em perícias
realizadas pela Lava Jato, segundo relatórios da PF.
O próprio site da Cellebrite afirma que a
polícia utilizou seus serviços na Operação Enterprise,
que investigou tráfico internacional de drogas.
Em 2019, o Ministério Público do Rio de
Janeiro conseguiu autorização da Justiça carioca para
usar as soluções da companhia na investigação da morte da vereadora Marielle Franco e
do motorista dela, Anderson Gomes.
O Instituto Geral de Perícias de Santa
Catarina (IGP/SC) conta com um equipamento similar da mesma empresa desde
agosto de 2020. Um comunicado da instituição afirma que ele custou R$ 265 mil.
Em 2016, os produtos da companhia ajudaram o FBI a desbloquear o celular do
terrorista Syed Farook, envolvido na ação que matou 14 pessoas e feriu 17 em
San Bernardino, na Califórnia.
A polícia apreendeu, no
último dia 26, o celular de Monique, mãe de Henry, e os de Jairinho e o do pai
da criança, Leniel Borel. A licença para o uso do Cellebrite foi obtida no
último dia 31 - um processo de licitação para a compra do serviço existia há 2
anos.
No aparelho da mãe foi recuperada uma série de "prints" (fotografias da tela) que mostravam uma conversa dela com a babá da criança, onde a funcionária dizia que o menino relatou ter sido agredido por Jairinho.
Essa troca de mensagens aconteceu em
fevereiro e apontou que o vereador agredia a criança com o conhecimento da mãe,
segundo a polícia. O menino morreu em 8 de março.
As
investigações do caso ainda não foram encerradas. O celular
da babá foi apreendido nesta quinta.
Neste
mesmo dia, no momento da prisão de Jairo e Monique, a polícia afirmou que ambos
tentaram se livrar dos aparelhos celulares que estavam usando atualmente,
jogando-os pela janela, mas que eles foram apreendidos também.
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